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Wednesday, November 18, 2009

Parte I – O encontro


São mais ou menos onze da noite. As sirenes são o único som audível na madrugada.
Houve um assassinato em uma velha mansão. Provavelmente lerão a respeito nos jornais, ou ouvirão na televisão, pois envolve um membro de fina malha aristocrática. Mas antes de ouvirem um relato distorcido e exagerado, talvez queiram ouvir os fatos. Se esse é o caso, vieram falar com a pessoa certa. O corpo de uma jovem foi encontrado no interior de uma mansão, com dois tiros nas costas e um no estômago. Ninguém especial. Só uma florista com ambições frustradas de ser fotógrafa.

A eternidade para mim começou em um dia de primavera.
Clarice, uma obra de arte, pintada por algum artista esquecido, que tentou usar linhas precisas para ter a exata definição de sua face e do seu corpo.
Sua pele me faz chorar, doce e capaz de exalar um perfume natural, como se fosse feita de rosas.
Santa e demônio. Uma mistura quase desconcertante de maturidade sexual e uma alegria infantil, ingênua.

A primeira vez que nos vimos foi em uma floricultura. Na ocasião ela foi comprar um buquê de rosas. Perguntei para quem eram as rosas, ela disse que era segredo, e que talvez um dia me contasse.
No outro dia, quando estava abrindo a floricultura, ela reaparece, e continuamos a conversa que tínhamos iniciado um dia antes. Peço que ela retorne no final do expediente. Convido-a pra andar na praia.

Eu nunca tinha visto uma garota tão linda como a Clarice.

Tinha olhos que fitavam o universo. Mas olhava para dentro como se estivesse a ocultar um tesouro oculto.
Por mais que tivesse um sólido físico, existia nela algo de não substancial, como se pudéssemos passar as mãos por entre seu corpo, quebrando-a em uma infinidade de corpúsculos menores.

Na praia observo o vento batendo em seu rosto. Ela me olha de uma maneira desconcertante, tímida, desviando o olhar. Quase sempre, seu olho bate em mim e logo se desvia, e vejo seu rosto mais nu que sempre, à beira mar, com este vento a bater e a esvoaçar cabelos e pensamentos. Mas mesmo quando seu olho se afasta do meu, continuo olhando, detalhadamente. Talvez ela não saiba, mas já conheço cada milímetro da sua pele.

Perambulamos pelas ruas. Tomamos um vinho.

Altas de corpos e copos.
Perdidas, perdemo-nos, perdi-me. Bebemos um pouco, não muito, só o suficiente para acender a emoção cansada, pensamentos altos de noite, algum álcool, e muita solidão.

Caminhamos em direção ao gozo.

Eu estou irrecuperavelmente unido a ela;
Sinto sua pele aderida a minha. Seu cheiro selvagem, tudo isso me faz ter explosões internas, tudo isso me faz ter tremores, suores; uma grande dor perfura o meu corpo abandonado, almejando por seu corpo. Nosso corpo, uma sinfonia de cores, uma vida que pulsa.
Eu amo seu corpo, amo mais seu corpo do que sua alma. A alma é imortal, o corpo é perecível. Preciso refugiar-me nos esconderijos do seu corpo, preciso mergulhar no abismo transcendente das "linhas quentes" deste corpo.

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