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Wednesday, March 23, 2011

Eles esperam nos levar para o jardim remoto, mas a morte chega pálida e arrojada, em uma hora estranha, sem avisos e planos, como um hóspede temido que você levou para a cama. A morte nos transforma em anjos, e nos dá asas onde tínhamos ombros macios como garras de corvos. Eu não partirei, prefiro um banquete de amigos
à uma família gigante. Agora a noite chegou com sua legião púrpura. Regressem para suas tendas e sonhos, amanhã visitaremos minha terra natal.
Certa vez tomei ácido e vi Jesus e Judas, eram uma só pessoa. Acho que deve ser mais ou menos isso. John está no terraço misturando remédios, eu estou na calçada criticando o governo.
Quando as portas se abrirem tudo parecerá infinito. Gosto de pessoas que tem a alma na cara. Deveríamos planejar um assassinato ou criar uma legião. Somos soldados de plástico numa guerra suja. Monstros de energia, devoramos consciências, digerimos o poder.
Não vá embora, venha dançar comigo. A serpente é longa, mede 3 metros, nas suas escamas se escondem homens. Se tivermos medo ela nos devora, mas se a beijarmos, um longo caminho pode se abrir, iluminado, até o desconhecido.
Digamos que eu testei os limites da realidade, eu estava curioso. As luzes se apagaram e os garçons recolheram as mesas, fomos embora recolhidos pela mórbida sensação de que a vida se encerra quando o álcool não mais escorre na corrente sanguínea. A cabeça girando, não mais obedecendo os limites do corpo, esvaíndo um psicodelismo controlado, digerindo as faixas luminosas estampadas nas paredes das lojas, as vitrines com bonecos de plástico, o gâs carbônico dos carros, o mendigo que pede um trocado. Tudo me causa repulsa, tem um rosto coberto por uma máscara , imagens que ficam retidas em minha cabeça, e logo ganham proporções monstruosas, me invadem. Nestes momentos paro de sentir a vida, deixo de viver, e fico congelada em uma redoma de plástico, respiração trôpega, olhar angustiante, caminhando em direção a minha casa como o mártir que penetra o anfiteatro, pronto para ser crucificado.
O ônibus azul se choca contra um carregamento de índios mortos no asfalto. A imagem de um grande xamã petrifica meu olhar, me fazendo olhá – lo por longos minutos, até que sua imagem se perde em um infinito maior que o meu, e me desmancho em lágrimas que cortam meu rosto como espinhos, fazendo da proximidade com a morte um momento de iluminação. Os espíritos dos índios mortos se juntam ao meu, de repente vejo Dionísio chegando na Grécia e enlouquecendo as mulheres, casais envoltos por uma grande cópula dourada, Baco servindo um banquete, luz e fúria que surgem do céu, deuses irropendo por todos os lugares, dançando nas calçadas, rosas que nascem no meio do asfalto.

1 comment:

Lorrayne Toebe said...

Ô menina, você sempre escrevendo de um jeito tão intenso, profundo, típico desabafo surreal.