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Saturday, June 09, 2007

Em busca do Tom perfeito

Em busca do Tom perfeito

Na época em que se escrevia phantasmas, eles eram temíveis. Hoje se escreve apenas com f, de foice, ferida.

A última partitura que ele deixara ao piano, o piano com teclas de marfim e couraça, resplandecia ao fundo da imagem do arpoador e do auto-retrato de Helena, Helena e seus olhos oceânicos.

Esta imagem ficara cravada em sua retina.

Quando phantasmas iluminados fizeram à radiografia da sua alma, foi revelado que a imagem soturna do estúdio tinha perfurado seu coração.

A última partitura; there will never be another you.

A alma do poeta sangrava feito caixinha de fósforos com todos os palitos metodicamente empilhados, receosos diante da ingerência vacilante de uma faísca de fogo.

O sentimento do mundo.

Era um angustiado, não era um poeta ressentido.

O poeta é um enorme beija-flor que alça vôo inalcançável, e cujo canto ecoa versos que também se dissolvem em meio ao incorpóreo ar. O resto são nuvens.

As nuvens são hastes que sustentam a ferida beijada pelos versos, pedaços de algodão, realçados pela dissonância das sensações.

Mas as janelas do grande pássaro branco estão sempre cerradas. Ele extravasa sua dor criando o samba do avião.

Na epígrafe do desespero, as almas ressentidas renunciam a certa angústia viva, ao excesso de voz entupida, hostilizando-a, dando-lhe um significado cor do rosa, não mais o verde amargo do lamento no morro.

Chega de saudade.

Todos, em um uníssono, ecoamos um grito de desespero mudo, um sofrimento latejante, talvez em uma floresta no meio do nada, talvez em um edifício onde se visualize janelas semi-abertas, levemente iluminadas, com grades de ferro, que nos separam, nos enclausuram em uma redoma de vidro; todos, fetos mortos dentro de uma superfície oca e não oxigenada.

Escrevendo para os mortos, os espectros iluminados, extravaso minha dor, lamentando apenas não ter abstraído das retinas do grande maestro a leveza intocável da sua alma.

Sylvia



Lindamente, Sylvia se veste para a morte.

O teatro da vida desaparece, cedendo lugar aos espaços vazios por onde vagam as almas perdidas.

Silenciosamente, como se cedendo lugar à experiência transcendente da morte, Sylvia se despede da vida.

A porta estava fechada, não havia janelas. Não havia como ver o que havia do outro lado.

Era como se ela não se visse sólida, mas um espaço translúcido, onde resplandecia suas dores, minúsculas dores, enorme sofrimento.

Era como se através dos seus olhos ela não conseguisse ver nada. Mas o negativo de uma pessoa. Com o subconsciente dizendo; destrua, destrua, ao passo que a consciência, insistentemente, repetia; ame e produza, ame e produza.
Por trás destas palavras, fatalmente a destruição ganharia forma.

O homem quer o caos, diz o poeta. Ele deseja isso. Talvez Sylvia quisesse apenas dar uma ordem as suas emoções dilaceradas, uma métrica precisa aos seus versos de mudo desespero.

Nos últimos anos, dizia estar experimentando coisas novas. Passou a fumar como compelida a encontrar no cigarro um amante complacente, fiel ao seu sofrimento..

Seu cigarro, seu amante, a morte. O vento, o abrigo da fumaça, o abrigo eternizado da sua angústia viva.