J. – Oi!
G. – Oi!
J. – Tudo bem?
G. – Tudo. E aí? Como foi a viagem?
J. – Um pouco cansativa. Muito tempo de vôo. (na falta do que dizer e exalando timidez por todos os poros do meu corpo, eu largo esta merda. Desde quando um vôo Salvador-Curitiba é cansativo?)
G. – E aí? Animada para o réveillon?
J. – Sim! Muito! É a primeira vez que venho a Florianópolis. Passar o réveillon na praia, um sonho!
A conversa tem pausas. A timidez lacra minha voz. Eu não consigo dizer nada. Tudo o que penso parece estúpido.
Seguimos direto para o albergue.
J. – É. Bonito lugar! E perto da praia. Eu adoro praia!
(Mentira. Eu detesto praia. Moro em frente à praia e não freqüento praia. O sol é desestimulante. Aquela confluência de corpos chamuscados por um vermelho-paixão. Exalando sensualidade. Fora isso eu estou branca feito uma estátua de mármore. Nunca gostei de “pegar” um bronze. Aliás, nunca fiquei bronzeada. No máximo fico vermelha. Vermelho-camarão. Conhece?)
G. – Eu acho que tu vais gostar dos meus amigos. Tem a C. a Ge.
J. – Sim. Claro. Conheço todos por Orkut. Simpatizei-me muito com a Ge.
G. – E a C?
J. – Ela toca violão! Eu sempre quis tocar um instrumento. Mas não levo jeito. Você me disse que ela tem a capacidade de reunir a galera. Fazer com que todos fiquem mais entrosados.
G. – É! A C. é uma irmã p. mim.
J. – Sim. Eu sei. Você me disse.
(Eu não tenho nada contra a C. Sério! Mas pessoas extrovertidas demais me assustam. Sim. Eu nem conheço a garota. E sempre me surpreendo com as pessoas. Mas eu sou ciumenta. Meu horóscopo chinês é o macaco-martelo. Ou macaco outra coisa? Ouvi isso dia destes de um astrólogo guru hippie/ avarento que certa vez levei para São Paulo e que me deu o maior calote)
(Tenho vontade de vomitar por meio de verborragias toda a ansiedade que senti durante estes dias. O medo. Expor todas as minhas carências. Dizer que me masturbava pensando nela. Tenho vontade de comê-la no exato momento em que nos encontrarmos)
J. – Eu acho que vou gostar de Florianópolis. Conheço Porto Alegre e Curitiba. Mas esta é a primeira vez que venho a Floripa.
G. – Sim. Tu vais gostar sim! É um lugar lindo. Já te disse isso pelo MSN.
J. – É. Tínhamos longas conversas pelo MSN.
(Internet. O sonho de consumo sexual-afetivo concretizado através de corpos-palavras. Como eu a amei durante todo este tempo.)
J. – Você é ainda mais bonita pessoalmente que pela web cam.
(Neste momento meu rosto fica rubro e eu dou um meio sorriso sem graça. Sorriso de gente tímida.)
G. – E o filme. Tu trouxeste?
J. – O diretor. Ele não me deixou trazer o filme porque tem a intenção de inscrevê-lo em alguns festivais. Não quer que o filme seja divulgado antes disso. Uma pena! Queria tanto te mostrar.
G. – Poxa! Uma pena mesmo!
(Encontro os amigos dela! A minha intuição diz que eu vou gostar mais da Ge.
Talvez porque ela tenha um instinto maternal em relação à G. A Ge se preocupa com a G. Eu gosto de amigos que se preocupam. Não que os outros não se preocupem. Mas não os conheço. Pelo menos a G. nunca me falou muito deles!)
A conversa flui!
Alguém: Quer dizer que tu és baiana hein?
J. – É. Sou.
Alguém: Mas tu não tens sotaque.
J. – Pois é. Sabe-se lá por que!
(Provavelmente alguém deve pensar que eu tenho vergonha do sotaque dos baianos. Talvez seja isso. Mas o fato é que eu gosto de línguas desde criança Sou muito “membrana plasmática”. Absorvo sotaques e atmosferas e hábitos com muita facilidade. Não sou nada barrista! Tenho que admitir! Mas o que é que nós baianos estamos vendendo p. o resto do Brasil? Música de baixa qualidade “música-pagode-baixaria”. Tudo misturado. No fundo com o mesmo refrão: Eu “dou” e tu me “dá” também. É. Infelizmente a era tropicália e bossa - João Gilberto é coisa do passado. E agora o Caetano tentando cantar Nirvana. Peloamordedeus!)
Alguém: Tu trabalhas com cinema?
J. –Fiz um filme apenas. Não trabalho com cinema.
Alguém: E do que se trata o filme?
(Esta é a pergunta mais difícil. Mas vamos lá!
(Sóbria eu diria que se trata de um triângulo amoroso que envolve três personagens. Um hetero que se apaixona por um gay e que mantém uma relação destrutiva com uma mulher. Bêbada eu diria: Eu entrei no filme quando o roteiro já estava pronto. O filme se resumia a uma história de amor entre dois homens que terminava em tragédia com a morte de um deles. Durante a produção do filme fui dando alguns palpites ao diretor. Acabei assumindo a função “voz off”. Transformei o personagem assassinado no narrador em off. Tentei ao máximo não planificá-lo. Problematizá-lo e fazer com que ele transitasse com total liberdade de pensamento por entre todos os ambientes. Inclusive invadindo o pensamento dos outros dois personagens da trama.)
Alguém: Parece interessante. Pena que tu não trouxeste!
J. - Pois é. Cinema tem destas coisas!
(Cinema é na verdade uma puta feira de vaidades. Cada um querendo salvaguardar seu ego. Quanto mais inflado o ego de uma pessoa que trabalha com cinema, mais ele se sente um novo Lukas Moodysoon.)
G. - (Linda. Observando a conversa)
Tu pensas em passar quantos dias aqui?
J. – Não sei. Estou vendo aí! (típica resposta de quem já está morrendo de amores e que gostaria de passar a eternidade ao lado dela)
Preparativos para o réveillon
Por etapas:
1) Escolher a roupa. Nada que marque minha cintura e revele as gordurentas que eu vou tentar esconder. Claro!
2) Maquiagem: Etapa mais difícil! Delineador? Nem pensar! Há dois meses R. passa o delineador em mim e eu não aprendo a usar aquilo! Afinal, delineador é tinta! É difícil. E eu tenho uma péssima habilidade motora.
3) Aguardar G. no albergue? Será que ela vai me buscar no albergue ou eu vou ter que ir até a praia ao encontro deles?
4) Caso isso aconteça: Ligar antecipadamente p. G. marcando um local de encontro. Ou. Construir um mapa que me faça chegar exatamente ao local onde eles se encontram.
(Aqui nós temos o hábito de ensinar as coisas de forma aleatória. Sem muitas explicações. Lá eles ensinam geralmente usando as palavras: Tu segue reto! Ou. Anda mais duas quadras! Minha cabeça fica zonza com estas explicações. Vai ser o jeito perguntar a no mínimo umas dez pessoas. Minha memória recente não é das melhores.)
Réveillon:
Sóbria:
Vou ficar calada que nem um túmulo e quando as pessoas perguntarem por que eu sou assim, tão calada, eu respondo: Gosto de observar. Este é meu jeito.
Bêbada: Vou tentar interagir com as pessoas e tentar ficar ao máximo perto da G. Vou tentar seduzi-la sem fazer cara de cachorro pidão! Isso não funciona! Vou ser gentil. Sem exageros.
Muito bêbada:
Vou começar a lembrar dos meninos e procurar um cartão p. ligar p. eles desejando feliz ano novo e dizer que estou morrendo de saudades.
Ai! Como eu to ansiosa!
Não vejo à hora de embarcar de vez p. Floripa.
E este rivotril que não faz efeito!
Merda!
Mas eu te amo G.!