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Wednesday, November 18, 2009

Parte II – A separação


Clarice não atendia mais minhas ligações. Eu estava amargurada, preocupada, queria ter notícias dela a qualquer custo. Até que um dia o telefone toca.
Alô?
Oi, sou eu, a Clarice.
Oi, eu liguei p. você todos estes dias, mas você não retornou minhas ligações.
Eu preciso conversar contigo, podemos nos ver no final da tarde?
Sim, claro. Podemos marcar no parque?
Pode ser, estarei lá às 18h00min, te esperando.
Encontramos-nos no parque no horário combinado. Quando eu cheguei, ela já estava lá, me esperando. Olhos lacrimejando, parecia que tinha algo sério p. falar comigo. Disse que tinha resolvido marcar nosso encontro no parque por que lá ela se recordava dos pais, mortos em um acidente de carro quando ela ainda era criança.
Quando ela resolve falar sobre seus pais, percebo que com eles mantinha uma guerra aberta. Com eles não podia falar, estavam mortos. Os cadáveres habitavam no seu guarda-roupa.
Percebo que seu pai era ela, inteiramente ela. Ela, com 25 anos, privada de relações humanas, introvertida, e não apenas relativamente, mas bastante fracassada. Sinto seu pai tomando-a pela mão, levando-a para a água. Na água bate sol. Do outro lado sua mãe acenava, mas não podia confortá-la.
Aquela também era uma morte lenta para Clarice. Era uma despedida.
A nossa despedida.
Eu sou casada, Ana. Eu te amo, mas não podemos ficar juntas. Estou presa a este relacionamento. Não saberia como te explicar isso, mas é o fim. Infelizmente tenho que te dizer , e acho melhor mesmo te falar de uma vez por todas, assim o sofrimento é menor.
Todo o mistério havia se perdido. Todos têm seus ângulos secretos. Toda relação, mesmo harmoniosa, contém sementes de farsa e tragédia. Tudo são armadilhas.
Havíamos chegado ao auge do relacionamento, agora, ele fatalmente começaria a desmoronar.
Dizer que sangrei por dentro soa a muito sangue, mas não encontro melhor termo para definir o que senti. Minhas lembranças estão em contato íntimo com minhas entranhas, meu coração, meu cérebro, meus nervos, no órgão genital, em meus intestinos.
Não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela sua ausência.
Deixei-me sem fazer absolutamente nada além de respirar.
De todas as minhas lembranças, só guardei três gostos na boca - de vodca, de lágrima, e de café.
Ela era minha predadora das trevas, sabia que um dia ele causaria a minha morte






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