http://www.facebook.com/profile.php?id=100001461978402#!/profile.php?id=100000552648269

Sunday, May 06, 2007

Based on a true story

O sofrimento mais latente pode renascer das circunstâncias mais inofensivas, ao passo que acontecimentos dantescos podem não significar nada.

Matar, por exemplo, é um verbo que segue a lei do máximo esforço. O esforço de viver dia após dia, em meio a desavenças, desencontros e destroços, a ruas desertas, esgotos imundos, lembrando-se de fatos fúnebres, como um estupro na infância, uma vida de lembranças torpes, ou mesmo algo inusitado, como uma roda gigante enorme, vermelha e azul, reluzente como um raio distante a iluminar os sonhos de uma mente que se oculta voluntariamente, tentando se esquecer de uma vida desumana.

Em meados de abril de 2003, conheci uma mulher no mínimo inusitada, mas que transpirava através dos poros, quase sempre encharcados de álcool e drogas, uma autêntica esperança de vida.

Seu nome era Lee, uma garota de programa cuja beleza, realçada por cabelos loiros e uma pele desgastada, perambulava pelas ruas de Day tona Beach, e que num ato de desespero, sabendo como não ter mais como amar a nenhum homem, tenta se matar após um programa que lhe rendera míseros cinco dólares.

Entre encontros e desencontros, quase no ápice de cometer suicídio, conhece Shelby, garota de origem protestante, que imediatamente se sente atraída pela beleza rústica de Lee, oferecendo-lhe bebida.

Inicialmente frustrada pela estupidez de Lee, “tire suas mãos sujas de mim, sua sapata tapada”, as duas logo se tornam amigas, e entre doses de bebida, troca de olhares e muitas risadas, uma paixão fulminante nasce entre ambas, levando Shelby a deixar a casa dos tios e Lee a se corromper, se prostituíndo, matando, em busca de um final feliz para uma história que apenas começara.

“I loved her. No one ever realized about me or believed that I could learn. I could train myself into anything. People always look down their noses at hookers. Never give you a chance ´cause they think you took the easy way out. But no one could imagine the will power it took to do what we do. I could discipline myself to anything when I believed in something, and I believed in her.”

Lee logo se torna uma assassina, mata por um desejo enorme de vingança ou mesmo de revelia a tudo e a todos, roubando carros de vítimas, enchendo sua namorada de presentes, se escondendo em motéis, alugando apartamentos, mudando de vida a todo instante, sem direção nenhuma, apenas tendo a certeza de que logo encontrará Shelby e que juntas poderão desfrutar dos prazeres de uma vida digna da paixão que nascera entre as duas

O corpo ensangüentado após a execução de suas vítimas, em nada condizia com a cadência com que tratava Shelby. Beijos, carinhos maliciosos e ardência, um amor dotado de um lirismo quase rústico, porém compulsivo, como se Shelby representasse a sua redenção, o seu renascer.

Vivia compulsivamente, como se esta fosse a única forma de materializar sonhos esvaídos por “atos de sobrevivência”. Tinha o andar calejado, os braços fortes, tendo em punho sempre a sua arma como forma de resguardar sua vida, ou mesmo quando alguém lhe desferia um olhar de terror.

Seus crimes foram muitos, e a “justiça dos homens”, puniu Lee, levando-a a prisão e posteriormente a execução de uma sentença de morte. O seu algoz foi seu grande amor, testemunhando com irreconhecível frieza os atos de rebeldia praticados pela “grande vítima das circunstâncias”, Lee, a prostituta estuprada na infância e vítima de maltrato pelo próprio pai, um cidadão qualquer que a abandonou como se estivesse se livrando de um objeto indecoroso.

Lee e Shelby nunca mais se falaram após o pronunciamento da sentença de morte. Lee permaneceu na prisão por doze anos, entre a escuridão e as lembranças de uma experiência de amor única, seu corpo tocado por mãos puras, que em nada se assemelhava ao grotesco toque de clientes exigentes e sanguinários.

Morreu tendo a certeza de que enquanto há vida, não se deve ter esperanças