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Saturday, June 13, 2009

A verdade nem sempre dói, não é mesmo?


Clara. Pronto, eis o nome dela. E o que posso dizer? Posso dizer que ela me procurou às nove da noite no sábado, que eu ainda sentia fraqueza após a extração dos dentes do siso naquela manhã. Posso dizer que saímos em dois casais para dançar no “Shebar”, que tomei cinco copos até o final da noite, de vodka pura, enquanto as outras bebiam cerveja. Mas não foi isso, nada disso. Foi assim que aconteceu. Vesti-me lentamente, alisando a roupa, passando perfume, cosméticos. Sei que me aprontei para uma noite de prazer sexual, tudo pensado nos mínimos detalhes. Eu não sairia com Clara de qualquer jeito, desejava aquela garota há dois anos. Existia todo um ritual, toda uma cerimônia composta de roupas, perfumes, massagens. Preparei-me um dia antes. Cabelo, unhas, esmalte preto, sei que ela gostava. Eu queria seduzi-la a qualquer custo.
Entramos no bar e nos sentamos. Sabia que seria eu a ter que superar o constrangimento inicial. Começamos a conversar.... sobre o enterro ao qual ela foi pela manhã, sobre o primo de vinte anos que quebrou a espinha e está paralítico pelo resto da vida, sobre a irmã que morreu de aids. “Meu deus, estamos mórbidos esta noite”, ela disse. Aí falamos de amenidades, como as palavras perdiam o sentido quando as repetíamos sem parar, como todos os garotos da faculdade pareciam iguais até a gente conhecê-los pessoalmente, e que detestávamos a idade que tínhamos.
Sempre me apavorei com aniversários, falei secamente. Não entendo, falei, como as pessoas conseguem ficar velhas. Secam por dentro. Quando somos jovens temos autoconfiança. Nem precisamos da religião.
“Por acaso você é católica”? Clara perguntou, como se isso fosse muito improvável.
“Não, e você?”
“Eu sou ela disse baixinho”
Conversamos mais, rimos mais, trocamos olhares oblíquos, seguimos com o roçar físico silencioso que torna tão deliciosa cada nova conquista. Pairava no ar o cheiro forte de feminilidade que criava o ambiente ideal para a minha existência. Havia algo em Clara naquela noite, um toque de seriedade, um magnetismo químico, que se encaixava em meu estado de espírito do jeito que duas peças se encaixam num quebra-cabeça infantil.
Na pista de dança ela me puxou para mais perto, meus seios firmes apertados contra os seus.

Foi como se um vinho quente fluísse através de mim, uma embriaguez elétrica. Ela encostou o rosto em meu cabelo, beijou minha face. “Não olhe para mim”, disse. Seu corpo quente firme contra o meu, conforme a música suave, erótica.
A dança é o prelúdio normal para uma noite de sexo, pensei. Tantas aulas de dança, quando somos pequenas demais para entender, e agora isso.
Clara olhou para mim, “acho melhor a gente sentar”. Fiz que não com a cabeça. “Não quer”? Ela disse. “E uma água, que tal”? Sentei-me e bebi a água que ela trouxe para mim, enquanto ela, de pé, olhava para baixo, era estranha sua fisionomia à meia-luz. Pus o copo de lado. “Foi rápido”, disse. “Deveria ter demorado mais”? Levantei-me e seu rosto se aproximou, os braços me envolveram. Passado um tempo, empurrei-a. “A chuva é tão gostosa. Faz a gente se sentir bem por dentro, básica, basta ouvir”. Eu estava encostada no balcão do bar. Clara, próxima, quente, olhos a brilhar, boca sensual e adorável. “Você”, falei deliberadamente, “não liga a mínima para mim, exceto fisicamente”. Qualquer uma negaria tal coisa, qualquer moça mentirosa. Mas Clara me sacudiu e havia urgência sem sua voz: “Sabe, você não devia ter dito isso, entendeu? Entendeu? “A verdade sempre dói।”

Idiota, falei, ou melhor, pensei alto.

“Não fique brava, ela riu. Afaste-se do balcão e veja”.
Recuando um passo, ela me puxou para perto de si, senti o estômago achatar e ela me beijou demorada e docemente, demorou a me soltar. "Pronto”, disse com um sorriso meigo, “ a verdade nem sempre dói, não é mesmo”?

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