Agora sei o que é solidão, acho. Momentânea solidão, pelo menos. Vem do fundo vago do ser, como uma doença no sangue espalhada pelo corpo, de modo que não se pode localizar a origem, o ponto de contágio.
Estou de volta ao meu quarto. Saudade é o nome dado ao sentimento aflitivo que me domina agora. Sozinha no quarto, entre dois mundos. Lá embaixo se encontra alguns transeuntes, ninguém que eu realmente conheça. Poderia descer com meia dúzia de um texto previamente decorado, tentar fazer alguns amigos. Mas não, ainda não. Nada de escapar de mim mergulhando em conversas artificiais. Melhor ficar aqui e penetrar mais fundo nesta solidão.
Eis-me aqui, portanto, em meu quarto. Não dá para me enganar e escapar a constatação brutal de que não importa quanto você se considera entusiasmada, não importa a certeza de que caráter é destino, nada é real, passado ou futuro, quando a gente fica sozinha no quarto com o relógio tiquetaqueando alto no falso brilho ilusório da luz elétrica. E se você não tem passado ou futuro, que no final das contas são os elementos que formam o presente todo, então é bem capaz de descartar a casca vazia do presente e cometer suicídio. Mas a massa fria entranhada no meu crânio raciocina e papagaia; “Penso, logo existo”, sussurrando que sempre chega o momento da virada, da ascensão, do galgar de um novo degrau. Por isso, aguardo. Para que serve a boa aparência? Garantir segurança temporária? De que adianta o cérebro? Para dizer apenas eu vi e compreendi? Ah, claro, eu me odeio pela incapacidade de descer até a rua e buscar consolo na companhia de estranhos. Eu me odeio por ter que ficar aqui sentada e ser castigada por não sei o que dentro de mim. Aqui estou um monte de recordações do passado e sonhos futuros reunidos num monte de carne razoavelmente atraente. Lembro-me do que esta carne já passou; sonho com o que passará. Registro aqui a ação dos nervos ópticos, da percepção sensorial. E penso: Sou apenas uma gota a mais no imenso mar de matéria definida, com a capacidade de perceber minha existência. Entre os milhões, ao nascer eu também era tudo, potencialmente. Eu também fui cerceada, bloqueada, deformada por meu ambiente, pela manifestação da hereditariedade. Eu também arranjarei um conjunto de crenças, de padrões pelos quais viverei, e, no entanto a própria satisfação de encontrá-los será manchada pelo fato de que terei atingido o ápice em matéria de vida superficial. Esta solidão diminuirá e desvanecerá, sem dúvida, quando amanhã eu mergulhar novamente nos cursos, na necessidade de estudar. Mas agora este falso objetivo foi suspenso e giro num vácuo temporário. Não há outro ser vivo na terra neste momento além de mim.
Meu deus, a vida é solidão, apesar de todos os opiáceos, apesar do falso brilho das festas alegres sem propósito algum, apesar dos falsos semblantes sorridentes que todos ostentamos. E quando você finalmente encontra uma pessoa com quem sente poder abrir a alma, para chocada com as palavras pronunciadas – são tão ásperas, tão feias, tão desprovidas de significado e tão débeis, por terem ficado presas no pequeno quarto escuro dentro da gente por tanto tempo. Sim, há alegria, realização e companheirismo, mas a solidão da alma, em sua autoconsciência medonha, é horrível e predominante.
Estou de volta ao meu quarto. Saudade é o nome dado ao sentimento aflitivo que me domina agora. Sozinha no quarto, entre dois mundos. Lá embaixo se encontra alguns transeuntes, ninguém que eu realmente conheça. Poderia descer com meia dúzia de um texto previamente decorado, tentar fazer alguns amigos. Mas não, ainda não. Nada de escapar de mim mergulhando em conversas artificiais. Melhor ficar aqui e penetrar mais fundo nesta solidão.
Eis-me aqui, portanto, em meu quarto. Não dá para me enganar e escapar a constatação brutal de que não importa quanto você se considera entusiasmada, não importa a certeza de que caráter é destino, nada é real, passado ou futuro, quando a gente fica sozinha no quarto com o relógio tiquetaqueando alto no falso brilho ilusório da luz elétrica. E se você não tem passado ou futuro, que no final das contas são os elementos que formam o presente todo, então é bem capaz de descartar a casca vazia do presente e cometer suicídio. Mas a massa fria entranhada no meu crânio raciocina e papagaia; “Penso, logo existo”, sussurrando que sempre chega o momento da virada, da ascensão, do galgar de um novo degrau. Por isso, aguardo. Para que serve a boa aparência? Garantir segurança temporária? De que adianta o cérebro? Para dizer apenas eu vi e compreendi? Ah, claro, eu me odeio pela incapacidade de descer até a rua e buscar consolo na companhia de estranhos. Eu me odeio por ter que ficar aqui sentada e ser castigada por não sei o que dentro de mim. Aqui estou um monte de recordações do passado e sonhos futuros reunidos num monte de carne razoavelmente atraente. Lembro-me do que esta carne já passou; sonho com o que passará. Registro aqui a ação dos nervos ópticos, da percepção sensorial. E penso: Sou apenas uma gota a mais no imenso mar de matéria definida, com a capacidade de perceber minha existência. Entre os milhões, ao nascer eu também era tudo, potencialmente. Eu também fui cerceada, bloqueada, deformada por meu ambiente, pela manifestação da hereditariedade. Eu também arranjarei um conjunto de crenças, de padrões pelos quais viverei, e, no entanto a própria satisfação de encontrá-los será manchada pelo fato de que terei atingido o ápice em matéria de vida superficial. Esta solidão diminuirá e desvanecerá, sem dúvida, quando amanhã eu mergulhar novamente nos cursos, na necessidade de estudar. Mas agora este falso objetivo foi suspenso e giro num vácuo temporário. Não há outro ser vivo na terra neste momento além de mim.
Meu deus, a vida é solidão, apesar de todos os opiáceos, apesar do falso brilho das festas alegres sem propósito algum, apesar dos falsos semblantes sorridentes que todos ostentamos. E quando você finalmente encontra uma pessoa com quem sente poder abrir a alma, para chocada com as palavras pronunciadas – são tão ásperas, tão feias, tão desprovidas de significado e tão débeis, por terem ficado presas no pequeno quarto escuro dentro da gente por tanto tempo. Sim, há alegria, realização e companheirismo, mas a solidão da alma, em sua autoconsciência medonha, é horrível e predominante.
1 comment:
A solidão é via de mão dupla, às vezes faz bem, às vezes faz mal. Mas é extremamente necessária para reflexão sobre a vida.
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