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Sunday, June 22, 2008

Overdose de vida



Dominada por uma palidez cadavérica, como se estivesse envolta em um grande capuz branco, Sylvia Plath se mostra refém do próprio desespero, mergulhada em seu esgoto de mágoas.

Amordaçada, sob pontes entre o sofrer e o pecado, denuncia viver entre o martírio e a morte.

Inglaterra, década de sessenta.

Londres é dominada por um inverno rigoroso.

Frêmitos.

Alguém parece chamar-lhe a porta. Atônita, enlaçada por um olhar sombrio e penetrante, dirige-se até o jardim. O jardim se mostra vago, incompleto e escurecido, dominado por várias roseiras e cedros que exalam um odor cinza, todos cobertos de neve.
O branco contrasta o negro. A lua, um grande capuz embranquecido, ilumina palidamente o cenário.

Sylvia finalmente abre a porta. Um jovem, dono de uma voz suave e aureolada por uma profunda tristeza, lança um olhar fixo para Sylvia. Seria capaz de lhe roubar os pensamentos.

Intrigada, Plath questiona a razão da sua visita, e convida o jovem para tomar um chá.

A noite pousa lentamente, inundando a terra de amargura.

Mergulhados em uma latente escuridão, Sylvia e o jovem, este observa uma coroa um pouco acima da cabeça da imagem da Virgem, com exatamente nove estrelas, sendo que uma delas estava apagada.

Ao som de Maria Callas, “Ah Bello a mi Ritorna”, horas ardentes, profundas e lentas, prevêem uma noite de volúpias.

A “chama” mescla-se a “neve branca”, um beijo ardente sela o inevitável, e os corpos se entrelaçam. Sylvia pousa sua cabeça, tão cheia de quimeras, no corpo quente do jovem, que retribui o gesto com beijos ardentes.

Caem folhas mortas sobre o jardim.

O cenário externo, totalmente angustiante, integralmente sombreado, e carregado de uma evasão melancólica, contrasta com o interior da casa, um ambiente onde a volúpia é impetrante.

“Tosca és um Buon Falco”, novamente Maria Callas, agora intercalada por breves versos, que o jovem sussurra nos ouvidos de Plath.
A melancolia assola a poeta, que atribui à noite de volúpias um desfecho memorável:

“Acredito que existe um lugar,
Onde as almas aflitas vagam,
Sob o peso da própria tristeza,
Esperando a hora certa de acertar,
De corrigir o que está errado,
Só então, podem reencontrar,
Aqueles que realmente amam,
Às vezes um corvo indica um caminho,
Por que às vezes, o “Amor é mais forte que a morte”.

1 comment:

Lorrayne Toebe said...

Texto maravilhoso, deveras cinematográfico.
Adoro seu modo intenso de escrever.