Todo desespero é fundamentalmente um desespero de sermos nós mesmos!
Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros, mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias existimos a sós. Os mártires penetram no grande panteão de mãos dadas, mas são crucificados sozinhos; abraçados, os amantes buscam fundir seus êxtases num único elo; inútil, cada espírito, por sua própria natureza está condenado a sofrer e vagar na mais plena solidão.
O cinema expressionista, manifestação artística que tende a deformar ou exagerar a realidade por meios que expressam os sentimentos e a percepção de maneira direta, é a perfeita tradução plástica do drama humano, da angústia, em efervescência nos recônditos da alma!
A tela é uma imensa gravura, e o filme uma pintura viva, com personagens que se assemelham a verdadeiros desenhos vivificados.
Seus atores não vêm, têm visões. Para eles, a cadeia de fatos não existe, só existe a visão interior que eles produzem.
O terror aparece interiorizado sob a forma de um sofrimento proveniente de um princípio irracional, o mal, no escuro da alma!
Os objetos e elementos da dramaturgia do horror são sempre escolhidos em função de sua estranheza e potencial de angústia, revelando um mundo incriado, em plena mutação, no qual é incômodo estar.
O tirano, personagem sinistro e mágico, que pode assumir a forma de um vampiro, da Morte ou do demônio.
A sombra, atributo dos personagens proscritos pela lei, pelo bem, e que são condenados a vagar num sono intermitente.
O espelho, meio malicioso para dar a realidade frívola um valor estético - as cenas chocantes são sempre mostradas através desta mediação - é através de um espelho que M, O vampiro de Dusseldorf, visualiza a inicial M de morder, nas costas. É também através dele que a morte vem ao mundo, no filme "As três luzes", obra prima do cineasta alemão Fritz Lang.
As olheiras, capazes de denunciar moléstias, inquietações filosóficas.
O livro, fundamento literário presente em grande parte dos filmes expressionistas. O livro que desvenda o mistério desfaz a dúvida, revela os segredos, é geralmente enorme, velho, raro e empoeirado.
Através de o livro dos vampiros, Nina personagem do clássico Nosferatu, do cineasta alemão Murnau, toma conhecimento da forma de exterminar o vampiro. O lê entre vertigens de horror, arfando numa poltrona.
O arfar, o ator expressionista não se limita a paixão ou ao susto, ele se apaixona e arfa..., se assusta e arfa..., indicando que o terror ou a paixão já se instalaram em definitivo na essência do personagem, restando-lhe apenas a entrega ao amor, ou a resignação ao mal.
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