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Tuesday, December 26, 2006

Postagem sem título

A inteligência pressupõe um enorme senso de objetividade, porém mesclado a consideráveis doses de conjugações herméticas.

Um contato tênue entre momentâneas forças místicas, convicções intimistas, e mesmo questões globalmente convencionadas, pode resultar em construções ideológicas pertinentes, podendo também ocasionar a debilidade permanente, a débil sensação de que não estar inserido dentro de um conjunto de normas e princípios meticulosamente estruturados, nos faz melhores ou piores engenheiros do pensamento.

Até o século XVII éramos ingênuos na maneira de nos posicionarmos criticamente em torno do sexo.

Há três séculos, em sociedades onde o fantasma da revolução industrial ainda não havia plantado seus fortalecidos vínculos, os corpos “pavoneavam”, os códigos da grosseria e da impudicícia eram frouxos, as crianças tinham um sexo, este de forma muito lenta, eu diria quase inexistente, era ocultado.

O velho camponês, cansado de obter prazer através de incansáveis “jogos solitários”, buscava a satisfação dos seus instintos em “crianças espertas”, que em troca de algumas carícias, cobravam recompensas, como alguma quantia em dinheiro. Esta uma prática corriqueira, costume possivelmente assimilado a vida cultural das cidades.

Com a revolução industrial, e mesmo com o surgimento da face mais perversa do capitalismo, o sexo passa a ser uma questão de interesse público.
O homem se torna uma inesgotável e rentável força produtiva. O sexo, antes incorporado ao cotidiano manso das cidades, é restringido a elaboração de uma multiplicidade de discursos, elaborações sistemáticas que nos autorizam quando, onde e como falar dele.
Se antes era comum encontrar o professor orientando seu discípulo naquilo que o fazia ter tremores solitários, um possível encontro sexual, esta mesma atitude a ele não mais passa a ser atribuída.

As sociedades que sucedem o século XVII estruturam suas relações de poder delimitando umas específica divisão de funções, estas desempenhadas através das suas instituições – a corporificarão do próprio poder.
Gerir com melhor eficiência a máquina estatal, cortar despesas, expandir as relações de consumo, significa também mudar as práticas sociais em torno da sexualidade.
Logo, o sexo é confinado, delimitado, classificado. Fala-se dele, porém, apenas após todo um engenhoso processo de controle.

Inevitavelmente, e quase que de forma exaustiva, nos fadaram a lamentar a herança medieval de associação do sexo ao pecado, porém, não nos perguntamos quais seriam as razões destas lamentações.

Fazemos discursos inflamados, construímos sofisticados raciocínios em torno da repressão, do silêncio e do mutismo que esta mesma forma de controle atribuiu ao sexo, mas não nos questionamos se esta é a questão de maior relevância. Não seríamos mais prudentes e mesmo mais inteligentes se questionássemos o que existe por trás de toda esta malha de discursos em torno do sexo? O que existe por trás da “análise crítica “ da sexualidade?

Quais seriam as motivações, políticas e econômicas, a suscitar esta multiplicidade de discursos? Qual a razão de todos eles estarem camuflados por uma afirmação genérica, uma expressão tipicamente “pós moderna” , e que parece mesmo ter nos custado um alto preço?

Se Dom Ruan provoca um corte na entrelaçada rede de relações de poder que envolve a analítica discussão do sexo, melhor mesmo deixarmos para os psicanalistas classifica-lo como narcisista ou anormal.

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