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Friday, August 13, 2010

Eu achava que a coisa mais bonita do mundo era a sombra, os milhares de desenhos em movimento e manchas paradas que a sombra faz. Tinha sombras em todos os lugares, , por baixo das casas, árvores e pedras, sombras por trás dos olhos e sorriso das pessoas e sombras, quilômetros e quilômetros delas, no lado escuro da terra.
Abaixei os olhos e vi os dois esparadrapos cor da pele, grudados em forma de cruz na barriga da minha perna direita. Tranquei a porta do banheiro, deixei a pia encher de água morna e peguei uma gilete.
Quando perguntaram a um velho filósofo romano como gostaria de morrer, ele disse que cortaria as veias durante um banho morno. Pensei que deveria ser fácil, deitada na banheira e vendo a vermelhidão da flor dos meus pulsos correr pela água clara, até que eu mergulhasse numa espécie colorida de papoula.
Mas quando chegou a hora a pele do meu pulso parecia tão branca e indefesa que não conseguia fazer. Era como se eu não conseguisse matar uma coisa que não estivesse sob aquela pele , nem no pulso fino e azulado que latejava sob meu polegar – estava em outro lugar, mais fundo, mais secreto e muito mais difícil de chegar.
Era necessário proceder em duas etapas. Um pulso, depois o outro. Três etapas, se considerasse trocar a lâmina de uma mão para outra. A seguir eu entrava na banheira e deitava.
Fiquei de frente para o armário de remédios. Se olhasse para o espelho na hora em que estivesse fazendo, seria como outra pessoa , num livro ou numa peça de teatro. Mas a pessoa no espelho estava paralisada e idiota demais

2 comments:

Lorrayne Toebe said...

As vezes a paralisia é bom, as vezes nessa etapa de contemplação do reflexo a gente acabe vendo algo de bom na vida que nos segure aqui.

Milla Carol said...

gostei.